Barão Vermelho 40 anos.

por Moisez Vasconcellos

Foi no dia 31 de maio que entrei no Teatro Claro no Rio de Janeiro para a montagem da luz para a gravação do DVD Barão Vermelho 40 anos. Os equipamentos foram locados da empresa Companhia da Luz. Este foi o primeiro registro em vídeo de um desenho de luz criado por mim em terras cariocas. Mas até chegar aqui passei por encontros que sem dúvida estão presentes no sucesso deste trabalho.

Depois de já estar operando a luz criada por Gabriel Farinon para o Barão Vermelho em sua turnê de 2022, fui convidado por ele para dar início ao novo projeto da Banda. O DVD dos 40 anos no Barão Vermelho.

A primeira etapa seria conhecer o projeto. Nossa primeira reunião foi ainda on-line, (por conta das restrições da pandemia da COVID-19) com Duda Ordunha um dos empresários da Banda, e o cineasta Rodrigo Pinto, que seria responsável pela direção do DVD. Este seria gravado e exibido no canal de TV "BIS" e seria lançado em diferentes partes, como uma série em capítulos. Porém, todas as imagens referentes ao show, seriam gravadas em dois dias de apresentações no teatro Claro NET no Rio de Janeiro. A partir desta reunião, eu e Gabriel Farinon partimos para a segunda fase do projeto: elaborar um planejamento para criação e execução do desenho de luz.

O mês era março de 2022 e a data para gravação do DVD estava marcada para 1º de junho daquele ano. Nós tínhamos um mês e alguns dias para desenvolver o projeto. O primeiro passo era fazer uma reunião com o diretor do DVD para compreender os aspectos de linguagem e conceito. Foi por meio de reuniões on-line que conversamos sobre as idéias para uma possível cenografia composta somente pela luz que se aproximasse das referencias trazidas pelo diretor. E Rodrigo sabia muito bem o que gostaria de filmar, suas referências eram bem evidentes com relação a presença do escuro em muitos momentos. Silhuetas e sombras eram muito visíveis em seu arquivo de referências. A luz quente de tungstênio com temperatura de cor de 2800 ou 3000K, de cor amarelada também era de sua preferência. Mas Rodrigo Pinto em nenhum momento excluiu a tecnologia das possibilidades de criar imagens interessantes, por isso a liberdade de criação na escolha dos equipamentos foi muito importante para o processo de criação e seu resultado final.

Rodrigo já tinha uma ordem de gravação dos blocos e também sugeriu momentos que deveriam ter algumas mudanças. Agora a terceira etapa seria assistir aos ensaios da banda para conversar com os artistas e conhecer os novos arranjos musicais.

®RodrigoPinto desenhos de estudos de posicionamento de câmeras e banda.

Antes de assistir aos ensaios musicais, eu comecei a desenhar um projeto em software de modelagem em 3D (Capture Polar) dentro de um teatro virtual com base nas referências que o diretor Rodrigo Pinto me passou. Este primeiro desenho serviu para a organização das ideias, em um projeto de visualização em 3D, o que permitia ver os detalhes de implementação e a viabilidade das idéias sugeridas. Estes estudos foram compartilhados com o diretor para iniciar o processo de composição da luz e cenografia.

Os ensaios aconteceram no estúdio Floresta, em Laranjeiras. O repertório era composto por mais de 28 músicas. Neste dia durante as pausas conversei pessoalmente com o diretor e com os artistas sobre idéias de luz, fotografia, posicionamento da banda, entrada de participações especiais durante o show e diversos detalhes importantes.

Todas estas informações se juntam novamente quando volto para a sala do estúdio 3D de iluminação da Companhia da Luz. Com esta ferramenta de trabalho consigo preparar novas idéias e propor uma segunda versão do desenho de luz e cenografia. Mas ainda não era satisfatório. Rodrigo pedia ainda uma outra versão. Algo que ele também pudesse aproveitar no seu enquadramento. Nesta versão ainda tínhamos espaços vazios no enquadramento. O olhar estava sempre muito frontal, chapado sem profundidade, com estruturas pesadas e destoantes da estrutura do teatro Italiano convencional.

Foi então que resolvi mudar completamente o desenho de cenografia e luz. A primeira coisa foi abandonar a estrutura de Box Truss e absorver ao desenho de iluminação a estrutura de tubos horizontais que são as varas de luz do teatro. Para complementar este desenho de varas horizontal, utilizei tubos H e boom’s para verticalizar o desenho e criar profundidade.

O resultado, agora na terceira versão, foi aprovado pelo diretor e eu poderia partir para a quarta etapa, que é a programação da luz em ambiente virtual 3D.

Acustico Barão 40 anos

O console escolhido para a programação das luzes foi a Grand MA3, na sua versão 1.7

Apesar de estar me familiarizando com o update de software, foi relativamente fácil programar o novo show. O software não tem bugs que comprometam a apresentação do show, mas são necessárias várias horas de programação para se sentir bem seguro, justamente porque a mudança do layout do console físico e virtual é muito significativa.

O resultado foi uma fotografia muito bonita e com uma estética bem definida e uma proposta bem clara de ocupação total do espaço da caixa cênica do teatro.

fotos: gustavogouveaphoto

Ficha técnica

Guto Goffi: bateria Maurício Barros: teclados e vocal de apoio Fernando Magalhães: guitarra e vocal de apoio Rodrigo Suricato: vocal, guitarra e violão